Minhas reflexões nesse blog, quase sempre se seguem a partir de um fato real acorrido, sendo assim, vamos ao caso que me instigou a escrever esse texto. Foi mandado para o meu orkut um flyer. Neste, estava à divulgação de uma festa Black, porém, a dama que estava na arte, era uma mulher loira. Espantei-me de imediato, um Baile Black com a propaganda ilustrada por uma mulher loira? Não me contive e questionei, dizendo que a arte estava linda, porém, não tinha gostado da mulher loira, de prontidão, a pessoa que mandou a arte para mim, retrucou, dizendo que também não tinha gostado, e que iria pedir para o criador mudá-la, (logo percebi que tal arte não havia sido feita pela tal, o que me alegrou, já que admiro o trabalho da mesma). Fiquei aguardando a nova arte, e me surpreendi, bem produzida, porém, a mulher negra estava estampada na arte vestindo apenas roupas íntimas. De imediato eu me questionei. Porque a loira estava completamente vestida, e a negra semi nua? Será que o artista que fez o flyer se atentou a essa questão? Diante desses questionamentos direcionados a uma situação, surge um questionamento maior. Qual a representação do corpo negro feminino na sociedade? Infelizmente não responderei a essa questão, (desculpem decepcioná-los), isso necessitaria de um estudo profundo, um texto científico, o que não é o caso, a intenção aqui é instigá-los sobre o assunto.
Se pensarmos historicamente, veremos que o corpo feminino negro foi abusado sexualmente de maneira naturalizada, o sinhozinho abusava da escrava “gostosa e quente”, (e permiti esse abuso estava dentro das obrigações de escrava), a sinhazinha fazia “vistas grossas”, e a sociedade se calava diante de tal absurdo. A escravidão legal acabou, porém, nós mulheres negras continuamos sendo exploradas sexualmente. Não vejo muita diferença do tempo em que o sinhozinho procurava a “negra quente” na senzala, para os tempos modernos, onde homens procuram o corpo negro feminino exclusivamente para explorá-lo sexualmente, como se fossemos apenas bundas, peitos e vaginas. Essa situação se legitima cotidianamente, a história que citei, para muitos é vista como “natural”, o cunho histórico-cultural não é percebido, e isso se perpetua dia após dia. Já ouvi cantadas de homens brancos que diziam, “adoro uma mulata”, ou, “vocês negras são as melhores”, de prontidão, eu perguntava-os, se já haviam namorado com alguma mulher negra? E muitos diziam que não, e o pior, argumentavam que não tiveram oportunidades. Os pensamentos desses homens brancos que adoram uma mulher negra para trepar (não poderia usar outra palavra se não essa), e procuram as brancas para casar, é o mesmo do sinhozinho do tempo da escravidão.
O racismo tem que ser combatido por nós mulheres negras, sei que a luta é por uma igualdade racial, (ler Anti Racismo: Liberdade e Conhecimento, D’ADESKY Jacques), porém, dentro dessa luta racial, nós mulheres sofremos muito mais, por sermos negras e por sermos mulheres. Portanto, o recorte raça acoplado ao gênero é importante para fortalecer a discussão, e assim, facilitar uma tomada de posição, de nós mulheres negras. Essa tomada de posição a que me refiro se remeti à sistematização dessas atitudes que na maioria das vezes passam despercebidas, a valorização só se dará a partir de uma militância. Não somos pedaços de carnes expostas como num frigorífico, somos corpos e mentes.
Lazaro Erê