segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Não somos apenas, bundas, peitos e vaginas: O corpo negro feminino e suas representações.

Na minha roda de amigos sempre se discuti sobre as representações simbólicas que o corpo da mulher negra tem na sociedade. Estigmas como o da “mulata boazona”, a “negra fogosa”, a “amante perfeita”, entre outros adjetivos, são retroalimentados, através de um racismo, machismo e sexismo secularmente estabelecidos. Essas representações foram construídas através da história do Brasil, onde no processo de colonização, o corpo feminino (indígena), era usado sexualmente pelos portugueses, muitas vezes isso se deu à força, os estupros eram comuns na perspectiva portuguesa enquanto colonizadores.



Minhas reflexões nesse blog, quase sempre se seguem a partir de um fato real acorrido, sendo assim, vamos ao caso que me instigou a escrever esse texto. Foi mandado para o meu orkut um flyer. Neste, estava à divulgação de uma festa Black, porém, a dama que estava na arte, era uma mulher loira. Espantei-me de imediato, um Baile Black com a propaganda ilustrada por uma mulher loira? Não me contive e questionei, dizendo que a arte estava linda, porém, não tinha gostado da mulher loira, de prontidão, a pessoa que mandou a arte para mim, retrucou, dizendo que também não tinha gostado, e que iria pedir para o criador mudá-la, (logo percebi que tal arte não havia sido feita pela tal, o que me alegrou, já que admiro o trabalho da mesma). Fiquei aguardando a nova arte, e me surpreendi, bem produzida, porém, a mulher negra estava estampada na arte vestindo apenas roupas íntimas. De imediato eu me questionei. Porque a loira estava completamente vestida, e a negra semi nua? Será que o artista que fez o flyer se atentou a essa questão? Diante desses questionamentos direcionados a uma situação, surge um questionamento maior. Qual a representação do corpo negro feminino na sociedade? Infelizmente não responderei a essa questão, (desculpem decepcioná-los), isso necessitaria de um estudo profundo, um texto científico, o que não é o caso, a intenção aqui é instigá-los sobre o assunto.


Se pensarmos historicamente, veremos que o corpo feminino negro foi abusado sexualmente de maneira naturalizada, o sinhozinho abusava da escrava “gostosa e quente”, (e permiti esse abuso estava dentro das obrigações de escrava), a sinhazinha fazia “vistas grossas”, e a sociedade se calava diante de tal absurdo. A escravidão legal acabou, porém, nós mulheres negras continuamos sendo exploradas sexualmente. Não vejo muita diferença do tempo em que o sinhozinho procurava a “negra quente” na senzala, para os tempos modernos, onde homens procuram o corpo negro feminino exclusivamente para explorá-lo sexualmente, como se fossemos apenas bundas, peitos e vaginas. Essa situação se legitima cotidianamente, a história que citei, para muitos é vista como “natural”, o cunho histórico-cultural não é percebido, e isso se perpetua dia após dia. Já ouvi cantadas de homens brancos que diziam, “adoro uma mulata”, ou, “vocês negras são as melhores”, de prontidão, eu perguntava-os, se já haviam namorado com alguma mulher negra? E muitos diziam que não, e o pior, argumentavam que não tiveram oportunidades. Os pensamentos desses homens brancos que adoram uma mulher negra para trepar (não poderia usar outra palavra se não essa), e procuram as brancas para casar, é o mesmo do sinhozinho do tempo da escravidão.


O racismo tem que ser combatido por nós mulheres negras, sei que a luta é por uma igualdade racial, (ler Anti Racismo: Liberdade e Conhecimento, D’ADESKY Jacques),  porém, dentro dessa luta racial, nós mulheres sofremos muito mais, por sermos negras e por sermos mulheres. Portanto, o recorte raça acoplado ao gênero é importante para fortalecer a discussão, e assim, facilitar uma tomada de posição, de nós mulheres negras. Essa tomada de posição a que me refiro se remeti à sistematização dessas atitudes que na maioria das vezes passam despercebidas, a valorização só se dará a partir de uma militância. Não somos pedaços de carnes expostas como num frigorífico, somos corpos e mentes.







Lazaro Erê

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A Pele Traduz

Na pele
Carrego coragem de mulher guerreira
Suor de combatente
Como o vento
Circulo em todos os cantos
Não me escondo
Não mordo, não apanho
Apesar das amarras
Rescindo
E me enlaço no que confio
Feminina pele
Reflete o que sou
Por ela não me oculto 
E nem poderia
Com ela me estampo
Todos os dias
Sou guerreira!
Sou mulher!
Sou Preta!


Por Nega Gisa


domingo, 22 de agosto de 2010

"Vaginas emocionadas": "A Nova mulher e a moral sexual"

O título deste texto foi retirado de uma música do grupo O Quadro, (grupo de Ilhéus muito bom), e do nome de um livro da autora Alexandra Kolontai(o qual iniciei a leitura hoje) . Nesse texto falarei da mulher emancipada, dona do seu corpo, da mulher livre que não se prende a valores e pudores ultrapassados e machistas.
Fico observando a forma que os homens e mulheres (por coerção), referem-se à questão sexual feminina, frases como, “ela da pra todo mundo”, são ditas diariamente de forma naturalizada, e nós mulheres não sistematizamos isso, ao contrário, ajudamos a reproduzi-las. Um dia desses estava conversando com uma amiga, e ela me contou sobre um ocorrido. Disse-me de forma repressora que uma mulher, conhecida nossa, tinha feito sexo oral em um homem no primeiro encontro, e esse homem comentou para uma pessoa, que falou para outra e assim foi reproduzindo essa informação que não deveria ser do interesse de ninguém. Minha amiga falou: “Isso é feio para uma mulher”, argumentando que a mulher estava errada em praticar tal ato, eu argumentei que o homem era o errado já que a intimidade sexual como diz o nome, é íntima, e a mulher é dona do seu corpo, seguimos discutindo sobre a sexualidade alheia por alguns minutos, e isso me instigou, durante dias fiquei me perguntando sobre a moral sexual da mulher, perguntando-me de que forma trato meu corpo diante dessa sociedade machista que dita regras, que ao serem transgredidas trazem reflexos cruéis, julgamentos como esse, que diz que uma mulher não pode fazer sexo oral em um homem no primeiro encontro, mesmo estando com vontade, que é considerada fácil, “vagabunda”, “puta”, “piranha”, entre outros adjetivos mais agressores. Diante disso, trago questões a serem discutidas e repensadas. Será que a nova mulher, essa mulher moderna emancipada, não tem direito de fazer o que bem entende com o seu corpo? Tem que pensar qual à hora de fazer o sexo oral, anal ou vaginal por conta de um julgamento, e não por vontade? Onde estão os direitos iguais? Eles são validos só na hora de dividir a conta do bar e do motel?
Nós mulheres devemos nos unir em prol de uma liberdade plena, não podemos ser feministas só quando nos convém, porque está na moda militar. O sexo também é uma forma de cabresto, de dominação, homens podem tudo, mulheres só podem o que os homens determinam como dentro dos patrões da moral e dos bons costumes. Músicas explicitando o órgão sexual da mulher, são feitas todos os dias, mandam descer, mandam subir, mandam ralar, bater, lamber, chupar, enfiar, e quanto queremos autonomia para usar um corpo que é descrito tantas vezes de forma pejorativa não podemos, os que mandam descer, ralar e mexer, são os mesmo que reprimem de forma coercitiva a mulher, fazendo com que mulheres se reprimam em função de um moral ultrapassada.

PS: Mulherada andem sempre com uma camisinha na bolsa ou no bolso, nunca sabemos quando iremos precisar de uma.
Força feminina!

Saudações Aquilombadas!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Justificando a demora de atualizações.


Confesso que ando um tanto relapsa  em relação ao blog, aliás, ando relapsa não só com o blog, mas com várias outras coisas da vida. Depois de adquirir um fôlego e me sentir renovada, acredito eu, volto a escrever nesse blog que a cada dia está se transformando em um divisor de águas na minha vida. Para os que não sabem, não sou adepta da escrita, e criei esse blog justamente para praticá-la. Acredito que tenho feito de forma razoável, tendo em vista que mais de seiscentas e cinqüenta pessoas visitaram esse humilde blog em menos de três meses. Agradeço a todos que reservam um tempo para ler meus textos, que não são acadêmicos, mas propõe aprimorar a escrita de uma estudante de antropologia, como também, instigar discussões sobre as questões que muitas vezes passam despercebidas, ou até mesmo questões que não possuem um espaço que possa ser debatidas com seriedade e respeito. Ferei uma nova postagem em breve, queria sugestões de temas, postem aqui as sugestões e ajudem a enriquecer o debate.
Saudações Aquilombadas!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A exaltação do descriminado : Quando convêm, é claro!

Estava eu, em uma dessas madrugadas em que fico na internet, quando uma amiga manda um link de uma reportagem, quando abrir o link vi mulheres negras enfileiradas, como num desfile de moda, todas lindíssimas. A chamada da matéria dizia: “Walter Rodrigues abre Fashion Rio com 25 modelos negras”, achei maravilhoso, a beleza negra é tão marginalizada, que colocar vinte e cinco modelos negras na passarela, é algo o mínimo inusitado, e de muita importância para a valorização da beleza negra. O problema foi que, quando li o subtítulo da matéria, entendi o porquê ele escolheu modelos negras, e o porquê, a matéria estava dando destaque às modelos negras, dizia assim: “A coleção de verão 2010/2011 da marca se inspirou na África e em sua influência no Brasil”. E achei tudo muito lamentável.
È claro que eu acho ótimo que mulheres negras desfilem, inclusive e principalmente se esse desfile é todo concebido por modelos negras. O problema é que, insistem nessa idéia separatista, para desfilar coleção inspirada na África modelos negras, para outras coleções, modelos branquíssimas de preferência, raramente se vê modelos negras. Grandes parte dos estilistas escolhem modelos apenas brancas em seus desfiles, isso é fato, inclusive ninguém estampa isso em matérias. A idéia de que não queremos um país separatista, é só para quando o discurso é contra as cotas? Essas situações cotidianas não são separatistas, discriminatórias, preconceituosas? Fica aqui o questionamento.
O texto ainda ressalta a falta de modelos negras nas agências: “A coleção de verão 2010/2011 da marca se inspirou na África e em sua influência no Brasil, da à escolha do estilista, que teve dificuldade para encontrar 25 modelos negras, já que é pequena a proporção em comparação com as modelos brancas nas agências”. Essa afirmação é no mínimo ingênua, o preconceito em aceitar modelos negras é tão grande que, quando surge um desfile como esse, onde se precisa de negros, a demanda não pode ser preenchida. Na verdade, eu achei essa 
 conversa um pouco contraditória, talvez a dificuldade fosse, em achar negros com traços europeus, enfim, isso é só uma suposição, não posso afirmar sem a certeza dos fatos.
O destaque que o negro tem muitas vezes nessa sociedade racista é esse, o objeto exótico. Quando é de interesse próprio valorizam-se os negros, se ganha dinheiro com algo que no cotidiano discrimina-se, o importante é lucrar. E eu me pergunto, e te pergunto qual o lugar do negro nessa sociedade preconceituosa? Será sempre o de subalterno? O exótico?
                                                               Foto: Fábio Motta

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Alma nua, corpo nú

Olhares e sorrisos, mais olhares e mais sorrisos
Aproximação, timidez, desejo
Palavras, palavras... Soltas palavras
Lançadas para um fim
Seduzir...!
Num impulso, num rompante
Tocam-se!
A pele, a boca, os gestos
De forma “mal intencionada”
Misturados num jogo de troca
Onde o que menos importa é a lucidez
Loucos, mansos, risonhos, maliciosos
Abraçados, envolvendo-se num calor mútuo...
Os lábios nos lábios
Molhados, carnosos, suculentos
Mãos a correr leve como pluma
Percorre...
Cintura, seio, nuca, cabelo...
Puxões!
Nesses crespos cabelos longos
Arrepios, gemidos, suor...
Língua a deslizar
Numa estrada
Onde o asfalta é feito de pele
E as curvas
Levam a lugares provocantes
Êxtase, arrebatamento, fascínio
Corpos colados, aquecidos e suados
Buscam satisfação condicional
Dentro, um do outro
Acesos, raivosos, delirantes, desvairados
Suspiros, gemidos, alucinações
Anseio de mais, apetite pra tudo
Por fim
O gozo, a calma, a alma nua...
Nua como os corpos unidos
A serenar...

Por Nega Gisa

domingo, 23 de maio de 2010

Se assuma, ser negona é massa: O cabelo como "demarcação racial"

Por: *Nega Gisa*

Saudações Aquilombadas!



É com propriedade que escrevo essa postagem, tenho vivido um dilema terrível, no decorrer desse texto irei expô-lo. O cabelo, símbolo de poder para muitas mulheres, reconhecido como tal por muitos homens, é objeto de “demarcação racial”. A dinâmica social em torno do cabelo se estabelece ainda hoje de forma racista, preconceituosa, como diversas outras. Tem-se a pele escura e cabelos encaracolados ou lisos, a mulher é considerada tudo, menos negra, denominam-a de cabo verde, moreninha, cor de jambo, cor de formiga (como eu era chamada na minha infância), dentre outras. Se a pele for clara, e os cabelos crespos, logo é denominada de negra, sarará, como dizem: “Ela é mais negra que qualquer negro de pele escura, pois ela tem cabelo ruim”.

Dentro dessas perspectivas, onde quem tem o cabelo menos crespo ganha dentro dessa sociedade racista o título de beleza, não é por acaso que salões de beleza vêem se estabelecendo como empresas de grande lucratividade. Não pela famosa chapinha que já trataram de vender a preço baratíssimo, hoje qualquer cidadã tem a oportunidade de adquirir-la. Mas, pelos mega hair, escova progressiva, escova inteligente, que hoje são produtos mais que cobiçados entre diversas mulheres, já ouvir algumas dizerem que se sentem nuas sem mega hair, não abrem mão de ficar nem se quer um dia sem ele. Normalmente os cabelos que as mulheres de cabelos crespos colocam, são cabelos lisos, destoando completamente do cabelo original, contudo não quero aqui dizer que sou contra esse procedimento, de forma alguma, cada um tem o livre arbítrio. Porém, é importante compreender que a causa dessa necessidade de ter cabelos compridos e lisos, não é pelo simples desejo de ficar mais bonita e ponto. Mas sim, ficar mais bonita dentro de padrões estabelecidos.

Vamos a minha vivência. Minha mãe não suporta o meu cabelo, e questiona a todo o tempo a forma que hoje eu o penteio, e diz: “A pessoa tem que ter higiene, arrumar o cabelo”. A falta de higiene para ela é manter um cabelo sem químicas, o chamado cabelo “black”, essa história se repeti em diversas famílias. Já ouvi vários depoimentos de amigas minha sobre essa questão, na entrevista de emprego serem indagadas sobre o cabelo, por conta disso muitas mulheres alisam o cabelo, na tentativa de ser aceita no mercado de trabalho, o que é considerado uma forma de mutilação, já que o cabelo dentro dessa perspectiva abordada é uma questão de afirmação, valorização de uma estética marginalizada pela sociedade, negada, esquecida até hoje pela mídia.

Um dia desses estava assistindo TV, quando passou a propaganda de um produto, a linha do produto se dizia afro, porém, no pote dos produtos estava estampada uma mulher com cabelos lisos. Isso é por acaso? Claro que não, a intenção é impor a estética européia, do cabelinho lisinho, ganhar dinheiro produzindo chapinhas, escovas progressivas, escovas inteligentes, que em minha opinião são escovas burras, já que aprisiona a mulher, quem disse que retocar a raiz do cabelo de mês em mês é inteligência? Não quero que mulheres que alisam os cabelos tenham raiva de mim ao ler esse texto, entretanto, o meu discurso aqui é a favor de uma liberdade estética.

Por isso mulheres, vamos soltar as nossas jubas, ditas rebeldes, assumam os dred looks, coloquem turbantes lindíssimos, vamos esquecer conceitos impostos, não podemos negar que o cabelo enquanto símbolo de poder, se transforma como legitimador do discurso a favor da igualdade racial.

PODER PARA MULHER PRETA!



Dicas:

· Use sempre produtos indicados para seu tipo de cabelo

· Hidrate os cabelos ao menos uma vez por semana

· Lave os cabelos com shampoo de preferência sem sal

· A última enxaguada deve ser sempre com água fria (estimula o brilho dos cabelos)

· Use sacador a 20 centímetros do couro cabeludo

· Evite molhar os cabelos e prendê-los